sexta-feira, 8 de maio de 2009

A Luta contra o Cérebro


Quero fazer parte de um mundo que não existe.

Quero transformar-me numa pessoa que não sou.

Quero partir-me em duas e não consigo.

Retirar a parte má, invés de a reter e a transformar em algo positivo.

Vivo no passado, o que não me vale de muito.

Revivo o passado, o que ainda tem um efeito mais devastador.

Quero viver o presente com calma e paz, que é o ideal. Mas, volto aos meus vícios antigos.

Uma maravilha!

Entretanto, no meio de tanto azar e maldizer, acerca do estado da minha vida, que quase comparo a Cândido de Voltaire… uma tragédia por certo!

Como uma colherada de cada vez. Sinto o sabor, a textura, o cheiro, degusto com prazer e sem pressas e engulo, já com tudo triturado e imenso deleite, satisfeita com a sensação de prazer que me traz este pequeno gesto e alimento que ingiro.

Porque é que eu não faço isso no meu dia-a-dia?

Porque não sinto o sabor, a textura, o colorido e a vastidão do universo que me rodeia? Porque não O degusto com gozo e com gosto através desses pequenos trejeitos? Seria tudo tão mais fácil.

A vida sem expectativas, sem pressões, sem ilusões, preocupações...

 Manter tudo simples:

- Saborear o gosto da vida;

- Experimentar a textura da vida;

- Observar o colorido da vida;

- Escutar o sentido da vida;

- Cheirar a vida;

- Pressentir a vida.

 Tudo tão simples, tão profundo, tão sábio, como observar uma flor do campo, sentir-lhe o odor, sentir-lhe a textura, apreciar a sua paleta de cores, sentir o sabor da vida e a partir dela, pressentir o sentido da vida.

Os ciclos eternos que nos regem.

O desabrochar, a maturação e o definhar de uma vida.

Portanto, volto a comer mais uma colherada e vem-me à cabeça todo o processo e caminhos que estes cereais e frutos (cereais de parte incerta, que decerto serão transgénicos, com o azar que tenho… as nozes são do Chile, e comprei tudo no pingo doce!) percorreram até chegar a mim. Nasceram, cresceram, foram colhidas, processadas, vendidas e adquiridas por mim, para chegarem à minha boca, língua, saliva, para ser degustada, ingerida, digerida e expelida por mim… (daqui a umas horas…para ir para o esgoto. Podia ter, realmente, um final mais poético…enfim é a vida, não pode ser sempre bela e idílica.).

Existe o factor realidade. Em que não podemos viver à margem da sociedade só porque nos apetece.

Fazemos todos parte de um todo, de uma máquina bem oleada, embora nos pareça um pouco rude e cruel a maior parte das vezes.

Mas, também, é, porque fizemos o mundo assim. Não vale a pena mandar a responsabilidade para cima dos outros, também temos de assumir a nossa quota-parte. O que é lixado. Sabe sempre bem sacudirmos as nossas responsabilidades para bem longe… num país muito, muito, muito far away from us! Como os americanos fazem!

Ora, vamos lá ver… como é que eu posso ajudar o mundo? Podia primeiro, melhorar o meu mundo. Eu própria, isso trás repercussões imediatas para aqueles que me rodeiam. Isso é bom. Melhorar-me gostar mais de mim, tratar-me melhor comer menos…bolos e coisas gordurentas… confesso. E comer mais vegetais, e porque não tornar-me vegetariana! Ai, que lá se vai o bom do cosido à portuguesa… Fazer mais exercício, mais meditação, mais pelos outros. Ajudar por ajudar. Sei lá tanta coisa… conseguir lidar com pessoas chatas, ser uma santa!!! Eheheh Exagero! Apenas conseguir ser equilibrada, entre aquilo que sou e o que os outros são. Ah! E fazer a reciclagem e plantar um horto! E… tantas coisas mais!

Coisa complicada mudar coisas tão simples!

Ufa… que canseira. E a telenovela que vai começar… acho que não vou ter tanto tempo assim, para ser boazinha e perfeita que nem uma santa de pau carunchoso…

Bem … vou cingir-me à minha realidade de leoa de gema, ansiando por ser adorada, adulada, massajada e ter um mordomo perfeito que tenha todo o tipo de competências e apetências (ihihih) … que viva para me agradar e mimar, até ficar feita uma bolinha cor-de-rosa, que nem a Miss Piggy, a chamar pelo Cocas!

Até realizar estes sonhos hedonistas, contento-me com tudo aquilo que tenho, que é pouco mas, é meu, e saiu do meu corpinho com muito esforço, algumas lágrimas e muito humor!

Haja Alegria!

sábado, 2 de maio de 2009

A Noite


Sento-me na minha varanda e observo a noite, aconchegada no meu poltrão e na minha manta preferida. Penso no dia que passou, no que fiz e deixei por fazer… Deixo a minha mente e imaginação vaguear pelo meu corpo e depois pelo mundo ao meu redor.

Noto o cheiro da noite, da urze, das flores, dos pinheiros, carvalhos e terra húmida pela cacimba. Os sons da noite, os grilos, cigarras e outros animais da noite, cantam para mim como se de uma sinfonia se tratasse, um som belo e delicado tocado por magia. Na minha face sinto a brisa fresca de primavera e sinto a maresia… as árvores, quase que parecem o som do mar, carpindo as suas vivências…

Quando dou por mim, vejo-me absorvida pela noite, a sua aura e por todos os seres que aí habitam…

A minha gata pressente o meu afastamento e vem aninhar-se ao meu colo, ruiva que nem uma cenoura, tem o pêlo macio e o seu calor descontrai-me ainda mais.

E, esqueço-me de quem sou…

No silêncio da noite deixo minha alma vaguear pelos campos e vales, por entre as colinas. Vejo a noite através de um azul profundo, o céu meio enublado, e por entre as nuvens espreita a lua tímida, ainda a crescer.

Os campos, sempre tão organizados parecem uma manta de retalhos, banhados por riachos de prata e nascentes de luz pálida e transparente.

A luz é mágica e sem sombras, imiscui-se pela natureza tornando-a viva, acordando as fadas e os duendes e todas as entidades da terra, da água e do luar…

Uma nova vida inicia, começam a sair dos seus esconderijos e regurgitam-se por tamanha liberdade. Enfim, a terra volta a quem lha pertence. Festejam e dançam, por entre a brisa fresca e cantam a sua gratidão à mãe Gaia por uma nova noite cheia de oportunidades. Como sempre asseiam a sua casa, o seu lar, saram as plantas e animais feridos, dão-lhes o amor e o respeito, que os humanos, arrogantes, recusam-lhes a dar.

Rezam para que os humanos voltem às origens e percebam que são apenas mais uma espécie dentro do reino animal, que percam a soberba de tentarem ser deuses. E admitam o seu lugar na sua cadeia e tentem ser o humildes o suficientes, que é Gaia quem os sustenta com todo o seu corpo, lágrimas, sangue, terra e mar.

Todas as fadas duendes e entidades da terra e do luar choram a ignorância do homem, e rezam para que eles acordem antes que seja tarde demais. Cada noite que passa o trabalho fica mais difícil de concretizar, existem cada vez mais vítimas pelo caminho…

A terra sofre com a violência do homem, com a sua recusa do amor para com eles e para com todos aqueles que habitam ao seu lado.