sábado, 2 de maio de 2009

A Noite


Sento-me na minha varanda e observo a noite, aconchegada no meu poltrão e na minha manta preferida. Penso no dia que passou, no que fiz e deixei por fazer… Deixo a minha mente e imaginação vaguear pelo meu corpo e depois pelo mundo ao meu redor.

Noto o cheiro da noite, da urze, das flores, dos pinheiros, carvalhos e terra húmida pela cacimba. Os sons da noite, os grilos, cigarras e outros animais da noite, cantam para mim como se de uma sinfonia se tratasse, um som belo e delicado tocado por magia. Na minha face sinto a brisa fresca de primavera e sinto a maresia… as árvores, quase que parecem o som do mar, carpindo as suas vivências…

Quando dou por mim, vejo-me absorvida pela noite, a sua aura e por todos os seres que aí habitam…

A minha gata pressente o meu afastamento e vem aninhar-se ao meu colo, ruiva que nem uma cenoura, tem o pêlo macio e o seu calor descontrai-me ainda mais.

E, esqueço-me de quem sou…

No silêncio da noite deixo minha alma vaguear pelos campos e vales, por entre as colinas. Vejo a noite através de um azul profundo, o céu meio enublado, e por entre as nuvens espreita a lua tímida, ainda a crescer.

Os campos, sempre tão organizados parecem uma manta de retalhos, banhados por riachos de prata e nascentes de luz pálida e transparente.

A luz é mágica e sem sombras, imiscui-se pela natureza tornando-a viva, acordando as fadas e os duendes e todas as entidades da terra, da água e do luar…

Uma nova vida inicia, começam a sair dos seus esconderijos e regurgitam-se por tamanha liberdade. Enfim, a terra volta a quem lha pertence. Festejam e dançam, por entre a brisa fresca e cantam a sua gratidão à mãe Gaia por uma nova noite cheia de oportunidades. Como sempre asseiam a sua casa, o seu lar, saram as plantas e animais feridos, dão-lhes o amor e o respeito, que os humanos, arrogantes, recusam-lhes a dar.

Rezam para que os humanos voltem às origens e percebam que são apenas mais uma espécie dentro do reino animal, que percam a soberba de tentarem ser deuses. E admitam o seu lugar na sua cadeia e tentem ser o humildes o suficientes, que é Gaia quem os sustenta com todo o seu corpo, lágrimas, sangue, terra e mar.

Todas as fadas duendes e entidades da terra e do luar choram a ignorância do homem, e rezam para que eles acordem antes que seja tarde demais. Cada noite que passa o trabalho fica mais difícil de concretizar, existem cada vez mais vítimas pelo caminho…

A terra sofre com a violência do homem, com a sua recusa do amor para com eles e para com todos aqueles que habitam ao seu lado.

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