sexta-feira, 25 de maio de 2007

Rasgos de Imaginação - Parte I: Reflexo




"Mais uma noite sem dormir…

Tive insónias. Não é novidade… à já uns anos que não sei o que é dormir em paz. Quando finalmente adormeço, sou invadida por sonhos vívidos o que reduz em muito a minha capacidade de me regenerar durante a noite.

Saio da cama e encaminho-me para a casa de banho, no meio dos meus rituais, lavo a cara e mais uma vez me olho ao espelho…

Mas, desta vez algo mudou. Algo está diferente em mim… não me reconheço. Os meus olhos azuis estão baços, o meu cabelo outrora brilhante e vivo está como se fosse palha, crespa e seca. Tenho umas manchas negras por debaixo dos meus olhos e rugas onde eu não imaginava que existiam.

No meu quarto está o meu amante… mais um. Para mim é um estranho, já não o reconheço e muito menos me lembro o porquê do nosso envolvimento. Conheci-o numa festa na galeria de arte lx20, conversámos, quando dei por mim estava a acordar ao lado dele numa casa que não era a minha.

Quero-o fora daqui… tenho trabalhos para acabar e não estou com paciência de dar uma de boazinha.

Saio da casa de banho e vou buscar a minha máquina fotográfica. Fotografo aquela imagem de uma noite de sexo selvagem. Não sei, mas algo naquela cena é gutural, aquele corpo desconhecido deitado na minha cama, num sono profundo estranho a tudo o que se está a passar à sua volta.

Aquela imagem atrai-me. O ambiente de penumbra, a luz do meio da manhã a trespassar os estores, o ar pesado do quarto… um momento impessoal, gélido e sem emoção.

Fotografo-o até à exaustão, não consigo perceber porque é que ele não acorda… fotografo-lhe as pernas enroladas nos lençóis de algodão brancos, as costas nuas com o reflexo da luz vindo da janela. Quero dissecar aquele cenário, quero por tudo à vista, ele muda de posição tiro-lhe a foto do perfil dele em contra luz…o pénis dele está erecto. Encontro aquela imagem excitante…dispo-me, e começo a brincar com o seu sexo, vejo-o a estremecer no seu sono, agrada-me estar no controlo.

Deleito-me vê-lo a acordar no meio do prazer. Ponho-me em cima dele e brinco com o seu desejo, não quero que tome o controlo… entramos numa luta de poder onde o desejo é o que domina e tem de ser satisfeito a qualquer custo… no meio de gemidos de prazer e lutas desiguais, onde a recompensa é um orgasmo de esquecimento sempre bem-vindo.

Fico na cama a dormitar, ele senta-se e diz que já está atrasado, sinto-me aliviada por se ir embora. Não resisto e registo aquele momento de intimidade devastada, levanto-me por instantes e preparo a máquina, ele não dá conta do que faço, ainda está em ressaca da noite anterior.

Volto para a cama e oiço aquele som característico do obturador."

1 comentário:

Fauno disse...

... um momento capturado por uma lente negra... Folgo em ver o Hard Rock nos lugares onde deve permanecer... intacto como quando nasceu... guarda essa chapa ...


e vê-mo-nos por ai!